sábado, junho 5

Time goes on , people remains the same - Pt1

Desorientada, caminhou até o banheiro em vagarosos passos que faziam ranger o velho carpete de madeira, era lá que havia deixado seus óculos. O despertador tocou, percebeu então que acordara minutos mais cedo do que pretendia. Olhou-se no espelho, notou que ainda vestia a mesma roupa de ontem, preparou o banho e de longe ouviu ruídos na cozinha.

Sentou-se à mesa, indiferente, consumiu o que ali havia sem demonstrar qualquer expressão, ignorou os conselhos de sua velha avó, vestiu sua jaqueta desbotada, hesitou por um instante e saiu.

No caminho a seu trabalho, perdeu-se em seu livro, mergulhou em pensamentos e sem prestar atenção no vai-e-vem dos passageiros do ônibus, percebeu que já era hora de descer.

Parou na frente do prédio cinza e antigo, mal-conservado por fora e frio por dentro. Fitava os grandes vitrôs, e por trás destes, passou a observar as pessoas que ali se movimentavam. Engravatados, sérios, cumprindo suas tarefas maquinalmente.

Em uma fração de segundo, vestiu uma máscara invisível, e subitamente, se transformou. Ares de superioridade, de desprezo e sarcasmo a inundaram, não cumprimentou ninguém, não fazia questão. Pegou um copo e o encheu de café requentado, era a única coisa disponível. Tirou de sua bolsa uma barra de cereal, ofereceu para os “colegas” de trabalho, abrindo um sorriso falho, falso.

Cruzou seu olhar com alguém não tão importante, com alguém que por algum motivo, considerava interessante. Sentia que menosprezava-a, que não a olhava da forma que desejava, e que o sentimento contido não era recíproco, sabia que a culpa era sua. Olhava, suportava, definia mentalmente um fim para tudo aquilo, mas resolvia continuar.

Fim de expediente, fim da tarde, fim do teatro diário. A noite veio, era fria e seca, triste e chuvosa, vazia. Debaixo da chuva, na caminhada reversa, a mesma garota, agora sem máscara, sentia-se bem ali, aconchegada no vazio, fragilizada e ciente de que não poderia continuar a fingir não se abalar. Traçou seus planos e criou expectativas, fez de tudo, mas não fez nada.

Prosseguiu assim, até que algo em sua rotina chegou ao fim, e se todo o resto se alterou por isso… bem, não se sabe, mas espera-se que sim

Por : João Vitor Gomes da Silva
WebSite : www.lifeinabasement.tumblr.com

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